CULTURA, GLOBALIZAÇÃO E MIDIA


Na sociedade, para alguns, existe um entendimento de que a cultura é algo que pertence ao ser culto, ao intelectual, outros por sua vez, relacionam a cultura à formação educacional, contudo ambas as visões parecem limitadas quando entende-se que não há que se falar em culto ou inculto, muito menos em superioridade e inferioridade de culturas, mas sim em variedades de culturas.

Quando tal pensamento se torna inelegível, muito mais fácil é respeitar o outro em sua maneira de ser e agir. Não se pode simplesmente, no intuito de fornecer algo que se apresenta como melhor, discriminar culturalmente grupos que, por exemplo, tem hábitos mais tradicionais e primários em prejuízo a costumes urbanos e tecnológicos.

O mundo midiático tenta vender aideia que os grandes centros urbanos produzem seres superiores, que dominam a ciência do conhecimento e os meios culturais, contudo tal entendimento se choca com a realidade que exsurge da visão de que a cultura advém do meio em que vive o individuo, de seus costumes, linguagem, vestuário, alimentação etc.

Tal imposição cultural não é, obviamente, sem propósito nem tão pouco tem o viés ingênuo e nobre de se levar algo considerado melhor ao alcance de mais e mais pessoas. Ao contrário, é sabido que quando um povo perde sua identidade cultural este fica enfraquecido, o que fatalmente o conduz a ser subjugado por outro, pois em sendo a cultura de um povo sua alma e o próprio significado de sua existência, sem este referencial de identidade por certo sucumbira.

Da mesma forma que é errônea a ideia propagada pelos meios midiáticos de que ser culto ou ter cultura é algo para uma elite, também há um ledo engano quando se cultua o fato de que as pessoas na atualidade tem acesso as mais diversas informações possíveis e ainda praticamente em tempo real. As ideologias que se apropriaram da tecnologia da informação e dos veículos midiáticos tem desencadeado uma significativa destruição de culturas nas mais diversas regiões do mundo.

Fato é que a busca pelo lucro, sem sombra de dúvidas invadiu o meio cultural. Existe uma falsa ideia, passada principalmente pelas grandes instituições internacionais de que a cultura é algo ao alcance de todos, mas não se trata de cultura, é algo massificado que identifica em cada individuo um potencial consumidor de seu produto.

Quando se fala em indústria cultural, logo se associa, pelo próprio nome, a produção em série e por sua vez ao estimulo ao consumo em série. Tal ideologia transformou a arte, a criação e tudo que diz respeito ao homem que deveria ser comum, prazeroso e contemplativo para todos, em produto, em mercadoria.

É óbvio que sem o avanço tecnológico das últimas décadas, tal empenho teria resultados em longo prazo e em menor escala. Contudo os meios de comunicação de massa têm estado muitas vezes acima dos próprios poderes institucionais. A bem da verdade sempre estão, pois os próprios políticos dependem dos meios de comunicação para galgarem o poder bem como para manterem-se nele.

Não raro, a um empenho enorme por parte de políticos em conseguir concessões de rádios e TVs, bem como é comum estes serem proprietários ou diretamente ligados a meios impressos como jornais e revistas, pois é notório o enorme poder midiático na formação de opinião do cidadão.

Nisto percebe-se um circulo vicioso nocivo, posto que existe uma perpetuação no poder político, que está atrelada à vontade permissiva das grandes empresas multinacionais que por sua vez fomentam a industria cultural, comercializando suas mercadorias de forma massificada, objetivando unicamente o lucro, não tendo qualquer compromisso ou preocupação com a deterioração da cultura local.

Em todo o tempo o povo é bombardeado por informações que trazem, de forma subliminar ou muitas vezes descarada, a divulgação de estilos de vida, moradia, vestuário, alimentação, relacionamento, trabalho, diversão etc. Um conjunto cultural padronizado em conformidade com os interesses do capital. Fato é que o enredo é tão elaborado que as informações ficam guardadas na cabeça do individuo, de forma que as mudanças culturais são iminentes e letais.

A exportação de costumes é um fato, algo irreversível, que não necessariamente seria algo danoso se o objetivo fosse compartilhar e somar para enriquecer. Ocorre que o processo global traz o aculturamento de forma impositiva, modificando hábitos e valores fazendo com que a cultura local padeça. Quando se pensa, por exemplo, nas musicas que se cantam nos mais diversos e longínquos locais do mundo, constata-se que a força dos meios de comunicação de massa, faz com que se deixem de lado a riqueza musico cultural daquele povo para se venerar musicas que não correspondem à sua identidade. O mesmo pode-se dizer dos costumes de alimentação, em razão da divulgação de hábitos propagados por grandes redes de Fast-food, entre uma gama extensa de outras ingerências perpetradas pelos meios de comunicação de massa.

O que fazer e como resistir, está ligado também a costumes cada vez menos difundidos ou também deturpados. A alienação do cidadão é algo que a mídia global se empenha para ampliar e manter. É importante para as empresas multinacionais que de forma crescente e constante as pessoas dediquem seu tempo, mais e mais, para os meios midiáticos em especial para a televisão e para a internet, e menos tempo para valorizar sua cultura, seus princípios, sua família.

Cada vez mais aumenta o numero de pessoas que, tendo sido educadas e doutrinadas pelos meios de comunicação de massa, se submetem cegamente aos valores e instituições ofertados, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros princípios. Há que se questionar o esforço e o conteúdo midiático exposto através das propagandas e matérias veiculadas nos mais diversos órgãos de comunicação, não se dando por vencido, como falou Milton Santos; “_O mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”.