REFLEXÕES SOBRE O DINHEIRO E O TERRITÓRIO


“Toda interpretação tem um interesse político. Não há interpretaçõesgratuitas”. Milton Santos

Muito se fala em visão política,administrativa, financeira, mas pouco se houve falar em analisar o ponto degeográfico para identificar os dramas vividos pelas sociedades.

O Geógrafo Milton Santos, em suavasta obra, por vezes debruçou-se nesta analise trazendo à discussão temas quelevantam questionamentos, alias enquanto mestre esta é uma de suas bandeiras,não trazer nada pronto mais sim levantar questões.

Neste diapasão, de forma humildee despretensiosa, pretendo nesta abordagem enfocar alguns pontos de vista, soba ótica de Milton Santos, sobre um de seus ensaios, que também é capitulo dolivro Território, territórios, cujo qual é um dos autores, intitulado “Odinheiro e o território”, onde este busca trazer uma indagação sobre estes doistemas tão atuais.

Segundo se depreende do referidotexto, existe uma preocupação do autor em ao mesmo tempo em que é transparentee categórico em suas convicções, abrir-se para a discussão. Tal se dá justamentepor definir e defender claramente seu ponto de vista.

Importante salientar que oterritório, vai além da simples delimitação perimetral, está intimamente ligadoàs pessoas que o possuem e são possuídas por ele. Tem haver diretamente comhábitos, culturas etc. Uma frase do Primeiro-ministro do Reino Unido WinstonChurchill, retrata este ponto de vista, “Primeiro fazemos nossas casas, depoisnossas casas nos fazem”.

Quanto ao dinheiro, constata-seque diante da complexidade das relações, este vem como resposta colocando-secomo medida de valor para o trabalho e seus resultados.

Ao longo da historia constata-seque o dinheiro a principio tinha apenas uma movimentação local, sendo esteutilizado por uma sociedade localizada. Neste prisma o território regia odinheiro sendo que o valor de cada pedaço de chão lhe era atribuído pelo usodesse respectivo pedaço de chão.

No decorrer do tempo houve aampliação das trocas, do comércio, uma produção maior de objetos e ainterdependência crescente das sociedades, o que culminou na necessidade dodinheiro. O dinheiro aparece ante a necessidade de regulação visando garantirestabilidade das trocas e da produção.

A negociação que antes se dava emfunção do uso, passa se dar pelo negócio em si, resultando em muitas situaçõesna instigação do uso.

O volume assustadoramentecrescente de negócios obriga a constituição cada vez maior de regulamentações,advindo à necessidade do Estado, para regular limites, produção, distribuição,garantias de trabalho, garantias da solidariedade e busca por excelência naexistência.

Surge então o Estado territorial,o território nacional, o Estado nacional, que então passa a regular o dinheiro.Num primeiro momento, este dinheiro era domesticado e mesmo sofrendoinfluências internacionais com a presença forte do Estado nacional, tratava-sede moeda nacional que se prestava às relações internas.

Posteriormente adveio o conceitode globalização, muito devido a ligação global através da velocidade deinformação. Este conceito veio tão forte que parecia que em se tratando dedinheiro globalizado, os territórios seriam extremamente enfraquecidos.

Com o passar do tempo vivenciandotal conceito, percebe-se que o território ainda resiste, prova disto é amaneira desigual em que o dinheiro esta ou não presente nos territórios. Odinheiro oriundo da globalização é algo invisível quase que abstrato, ao mesmotempo em que é arbitrário e tirânico.

Nisto constata-se queentrelaçadas e interdependentes, duas ditaduras subjugam a humanidade nestetempo, a ditadura da informação e a ditadura do dinheiro.

O dinheiro global impõe-se sobreos Estados, determinando caminhos, adaptações, rendições, não sob a visão dosresultados que possa acarretar ao território, mas o resultado em si mesmo,através das lógicas das empresas e dos governos mundiais.

As empresas que atingiram opatamar de empresa global buscam através da competitividade aumentar seu podere influência, visando exclusivamente seu crescimento.

Nesta escalada de poder, não hácritérios, não existe olhar periférico, as escolhas se dão por interessesmomentâneos ou que se imagina ter, logo uma vez que se extraiu de determinadolugar tudo o que se pretendia ou que se imaginava poder ter, esse lugar éabandonado.

Percebemos que o território queoutrora continha o dinheiro e que a este regulava, hoje é suplantado pelainfluência externa sendo impossível regular internamente, pois vive emconstante ameaça de instabilidade, o que provoca a necessidade deste de apoiaraquilo que não se acredita em razão do medo de perder ainda mais.

No contesto nacional brasileironão é diferente, a ditadura do dinheiro dificulta a regulamentação interna jáque cada centavo global que adentra à nação, tem interesse que somente sedesregulamente aumentando a dependência, fortalecendo o dinheiro e desorganizando todoo resto.

No caso especifico das empresasglobais não é diferente, pois estas com sua presença constituem um fator dedesorganização, pois impõe suas necessidades à despeito das necessidades doterritório que ocupam, sendo altamente desagregadoras por essência,contaminando a governabilidade do pais.

Em síntese, dada ainternacionalização do dinheiro, o resultado da influência deste no territórioé devastador, em que pese ações que buscam reorganizar o território como aEuropa com a Comunidade europeia, é inegável a interdependência monetária.

Talvez o caminho mais viável parainterrupção desta desenfreada cultura seja a cidadania, contudo em se tratandode Brasil isto é preocupante, pois, a bem da verdade, não temos formação decidadania e estamos acostumados a colocar os interesses imediatistas eindividualistas à frente do coletivo o que permite uma proliferação abundanteda desorganização perpetrada pelos chamados interesses globais.

Contudo a que se ter esperança, poisestamos aprendendo e descobrindo, dia após dia, governo após governo, eleiçãoapós eleição, a agirmos como cidadãosconstruindo uma nova realidade. Como falou o próprio Milton Santos; “_O mundo éformado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”.